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Pesquisa da Unicamp cria filtros sustentáveis que removem poluentes da água
Tecnologia usa resíduos naturais e nanotubos de carbono para eliminar até 98% das impurezas, incluindo resíduos de medicamentos e antibióticos
Por Thaís Pimenta - 14/10/2025




Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp estão desenvolvendo filtros biodegradáveis e sustentáveis capazes de remover substâncias tóxicas da água, entre elas resíduos de medicamentos e outros contaminantes que não são eliminados pelos sistemas convencionais de tratamento.

A tecnologia combina materiais orgânicos com nanotubos de carbono — estruturas minúsculas, milhares de vezes mais finas que um fio de cabelo — que funcionam como um “ímã químico”, atraindo e retendo os poluentes sem gerar resíduos tóxicos.

Nos testes realizados em laboratório, os filtros eliminaram até 98% das impurezas presentes na água. “Os poluentes mais comuns nas águas são os resíduos farmacêuticos, como analgésicos e antibióticos. Mesmo em pequenas concentrações, eles se acumulam e podem afetar a saúde humana e o meio ambiente”, explica a professora Melissa Gurgel, do programa de pós-graduação da FEQ.

Para tornar o processo ainda mais sustentável, a equipe decidiu utilizar resíduos naturais como matéria-prima. Entre os materiais testados estão a casca de tucumã — fruto típico da Amazônia —, o tronco da bananeira, a casca de café e a proteína extraída do bicho-da-seda. Esses compostos são transformados em biocarvões, que servem como base para o processo de adsorção, no qual as moléculas dos poluentes ficam “presas” na superfície do filtro.

Além dos medicamentos, os pesquisadores também investigam a presença crescente de superbactérias resistentes a antibióticos, já encontradas até mesmo em amostras de água potável.

“Com o tempo, essas bactérias podem se tornar imunes aos antibióticos. Ou seja, o remédio que tem efeito hoje pode não funcionar no futuro”, alerta a professora Heloisa de Sá Costa, também da FEQ.

De acordo com o pesquisador Thiago, integrante do grupo, o uso de biocarvões a partir de resíduos naturais representa “uma solução ecológica e acessível para o tratamento da água, com potencial para aplicação em larga escala”.

O projeto também abre caminho para o tratamento de efluentes industriais, conhecidos por conter poluentes de difícil remoção. A combinação entre nanotecnologia e materiais orgânicos pode oferecer uma alternativa sustentável e de baixo custo para o tratamento de grandes volumes de água, sem causar novos danos ambientais.

Ainda em fase de testes, a pesquisa representa um avanço significativo rumo a um tratamento de água mais ecológico e eficiente, com potencial de reduzir os impactos da poluição na saúde humana e no meio ambiente.

Segundo os pesquisadores, a próxima etapa será levar os testes do laboratório para os rios e corpos d’água naturais. 

 

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